Uma criança chamada solitária

Guest Post by Lee Davy, March 27, 2014

Todos nós conhecemos uma criança chamada solitária.

Solitária é a criança que joga o cobertor sobre sua cabeça e coloca o travesseiro sobre seus ouvidos para não escutar o barulho no andar de baixo.

Solitária é a criança que é colocada na parede do ginásio enquanto os capitães das equipas escolhem seus integrantes e quem passa os 30 minutos seguintes com a esperança que nunca vai receber a bola.

Crédito da foto: Arief Rahman Saan (Ezagren)

Solitária é uma criança que não foi escolhida para participar da festa de aniversário porque havia apenas três assentos na parte traseira do carro; a criança que iria esconder-se e ninguém foi procurar; a criança que esperava pacientemente atrás da porta que ninguém nunca bateu.

A criança solitária atrai olhares porque ela foi a última a ter seus cabelos compridos e tinha o rosto cheio de manchas.

Solitário é aquele que apreciava meninas que nunca poderiam ser sua ou a garota que tem um namorado que aprecia sua beleza mas nunca se preocupa com seu coração.

Solitária é a criança que passa a vida se sentindo desanimada.

Solitário é o jovem que come sozinho no primeiro dia de seu novo trabalho e ninguém faz perguntas a ele.

Solitário é o homem que se divorcia, deixa a casa e dá adeus aos seus filhos. Ele dorme numa cama fria, olha para as quatro paredes e ouve o silêncio.

Alguma vez você já gritou silenciosamente pelos seus pulmões?

O solitário já.

Os cacos de vidro revelam a face da solidão.

Todos nós sabemos disto, todos nós vemos isto, todos nós sentimos isto e todos nós somos isto.

Crédito da foto: "Lonely Silhouette", Jo N CC-BY-SA-2.0, Flickr

Solitária é a criança que um dia descobre o poker online. Ele começa a jogar bem. Seus dedos dançam ao redor do teclado e o dinheiro aparece. Ele esconde-se atrás de um avatar e comunica-se por chat. As coisas começam a ser um pouco diferentes. O coração começa a esquentar.

De repente, há um significado.

Se este avatar estivesse em pé na parede do ginásio, aposto que ele seria o primeiro a ser escolhido.

O avatar participa de fóruns de poker e pesquisas para companhias que conhece. Ele escolhe outras pessoas solitárias e provoca-as. Ridículo e abusado. Opiniões divergentes são consideradas como raios num bravo céu noturno.

Quando o jogo fica mais complexo, a solidão fica cheia de dinheiro. Ele é apreciado por uma legião de fãs que nunca viu. Ele é entrevistado por Skype por meios de comunicação que desejam vender sua história para o mundo.

Já fizemos isto?

Temos conquistado a nossa solidão com a realizações?

Pare por um instante e ouça seu coração.

Ele bate.

Ele bate.

O que ele está a dizer?

Há uma dor seguida de um grito silencioso.

Ainda está lá.

Solitária é a criança que tem um saldo bancário maior, ego maior e um buraco maior no coração do que um queijo suíço.

Então, como posso curar essa criança chamada solitária?

Crédito da foto: "Lonely Guy", robertsharp CC-BY-SA-2.0, Flickr

Saia da casa; apaixone-se pelo mundo. Saia de trás da sombra de seu avatar e busque pessoas de carne e osso. Isto é muito mais quente do que o brilho frio de suas paredes.

Deixe as pessoas verem os seus olhos. Estes grandes olhos atraentes. Eles são a portas de entrada para aquele lugar precioso. Encontre comunidades. Não deixe sua solidão perder-se na santidade de números. Encontre outra criança chamada solitária com quem poderá partilhar sua dor.

O poker online traz muita felicidade. Ele agrada seu coração e enquanto você faz cócegas nos botões do poker online, o poker online faz cócegas em si.

Porém você precisa procurar o equilíbrio para desfrutar da maravilha de poker online. Procure pessoas com as quais identifique-se para partilhar sua solidão. Viaje com elas, coma com elas, ouça-as e fale com elas.

Deixe os raios do sol esquentar sua pele. Mergulhe no mar e sinta a água entrar na sua boca com o sabor de um mar de lágrimas.

Una-se aos seus novos amigos e fique orgulhoso contra a parede do ginásio.

Conecte-se.

Mantenha as mãos.

Mantenha um olhar fixo.

Ouça.

Reflita.

Consuma.

Encontre a coragem de partilhar sua vulnerabilidade.

Seja o primeiro a mostrar esta criança chamada solitária e, então, talvez essa criança nunca mais vai ficar sozinha.

 

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